quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A PROVÍNCIA MAGMÁTICA DO CABO SUAS RELAÇÕES HISTÓRICA-GEOLÓGICA COM VICENTE PIZON E ALFRED WEGENER



A PROVÍNCIA MAGMÁTICA DO CABO SUAS RELAÇÕES HISTÓRICA-GEOLÓGICA COM VICENTE PIZON E ALFRED WEGENER

Um turista desavisado em visita a Província Magmática do Cabo na região litorânea ao Sul de Pernambuco, nem imagina que está em palco na qual se desenrolou grandes eventos históricos e geológicos.  Histórico porque há uma relação com a polêmica que gira em torno da real descoberta do Brasil por Vicente Yañes Pizon. Geológicos relacionados à evidência da Teoria da Deriva Continental proposta por Alfred Wegener em 1915. Por isso é fundamental que esse local seja preservado de maneira adequada, porque não é um ponto qualquer do mapa, mas sim um lugar importante para pesquisadores do município, do estado, e do Brasil e até do mundo (Figura 1).
  





Figura 1: Uma placa mostra o local da chegada de Vicente Yañes Pizon. Autor: Natalicio de MeloRodrigues, 2013.

A questão histórica vem de afirmações de que o Brasil não foi descoberto em 21/04/1500 por Pedro Alvares Cabral, mas sim em 1498 quando o navegador Vicente Yañes Pinzón chegou ao novo continente, este teria aportado em Pernambuco, precisamente no Cabo de Santo Agostinho, batizado na época por Santa Maria de La Consolacion. Porém, o fato não foi tão oficializado, pois pelo Tratado de Tordesilhas as terras a qual ele estava colocando os pés faziam parte do território português. Mas, mesmo assim essa aventura ultramar extraordinária, marcava uma importante viagem ligando os continentes que antes haviam pertencido à antiga Gondwana. 




Figura 2: A cima observa-se o promontório do Cabo de Santo Agostinho com indícios de escoada lavas de rochas basálticas consolidados, evidenciando os fenômenos geológicos que testemunham a Teoria da Deriva Continental. À baixo rochas basálticas semelhantes encontradas em uma praia frente ao Estádio Arena Lebreville-Gabão no Continente africano. Fonte: esporteuol.com. 2013. 

Os aspectos geológicos que servem de testemunho a Teoria Deriva Continental são os Terrenos vulcânicos, estes são encontrados em Pernambuco na Província Magmática do Cabo, área representada por uma pequena mancha em cor laranja no mapa próximo ao litoral. Embora os Terrenos Ígneos e Metaformicos do Pré-Cambriano Cristalino constitua a maior parte do embasamento geológico de Pernambuco, representados na figura em tom vermelho. Outra categoria secundaria em destaque são os Terrenos Sedimentares que aparecem em cor verde para as bacias soerguidas, como é o caso da Chapada do Araripe e da Chapada do Catimbau, e as áreas de sedimentação recentes também presente nas áreas baixas do Parque Nacional do Catimbau e no litoral em cor amarelo (Figura 3).

Fonte:GoogleErth.2020. Praia de Ipojuca-PE

Figura 3: Ver-se Terrenos Vulcânicos do Cretáceo geologicamente são os mais atrativos do ponto de vista didático devido à raridade em nosso estado desse tipo de fenômeno. 


A Província Magmática do Cabo é onde se concentra aspectos geológicos com potencialidades para prática do Geoturismo e campo dessa pesquisa. Essa região distancia-se aproximadamente 30 km de Recife, estendendo-se por aproximadamente 20 km quadrados, área que por sua dimensão abrange as localidades os domínios dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca e Sirinhaém (Figura 4).  


Figura 4: Observam-se os municípios que constitui a província do Cabo. A mancha em cor verde elucida o Complexo do Suape. Fonte: proximatrip.cpm

Em cada uma dessas cidades tem relação com fenômenos geológicos e de potencialidades de Geoturismo e pesquisa. Em Sirinhaém, por exemplo, se dar devido a presença da Ilha de Santo Aleixo, localizada a pelo menos dois quilometro da costa, é do tipo vulcânica e de composição rochosa basáltica, distribui-se em uma área acima no nível do mar com cerca de 450.000 m2.  No Cabo de Santo Agostinho são presentes escoados de lavas vulcânicas, e a cidade de Ipojuca abriga evidencia de uma antiga chaminé vulcânico. Ambos os fenômenos são apontados como evidencias da teoria da Deriva Continental e relacionados ao desmembramento da América do Sul e a África. Por fim o município de Ipojuca onde se localiza uma estrutura geológica denominada de Neck vulcânico.

2. EVENTOS GEOLÓGICOS DA DERIVA CONTINENTAL NA  PROVÍNCIA  MAGMÁTICA  DO CABO DE SANTO AGOSTINHO 

Os primeiros trabalhos geológicos relacionados ao litoral em Pernambuco como denominação de Província Magmática do Cabo (PMC) são creditados a Josh Casper Branner, que no final do século XIX (01/1876-07/1889) visitou por duas vezes o litoral pernambucano. A pesquisa que resultou em 1902, o artigo “The Geology of the Northeast Cost of Brazil”, posteriormente foi publicada no Boletim da Sociedade Geológica da América.

Essas pesquisas antecedem em mais de 10 anos a Teoria da à Teoria da Deriva Continental, mas não possui nenhuma relação com a teoria em discussão  uma vez que essa só veria ser conhecida mais tarde em 1915. As excursões de pesquisa também não são recentes, há registro de que as excursões a esta área atribuídas à Costa & Melo apud Nascimento (2003) em que se afirmam ter sido os primeiros guias de excursão para observação e estudo da região do Cabo de Santo Agostinho com visitas as rochas vulcânicas desta área.

Os Terrenos Vulcânicos do Cretáceo, nesse local aparecem na forma de escoadas de lavas antigas, consolidadas na forma de rocha magmáticas tipo vulcânico denominado traquito, essas se distribuem ao longo das Praias de Itapuama e das Pedras pretas. O nome Pedras Pretas deriva justamente da típica cor preta comum presente nas rochas basálticas, e que também encontradas nesse local (Figura 5).



Figura 5: As pedras pretas da Praia de Itapuama no Cabo de Santo Agostinho são de basaltos, algumas dessas rochas apresentam hoje feições arredondadas devido à erosão marinha, são rochas ígneas magmáticas oriundas de escoadas de lava vulcânicas. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Outra forma de possível de ser observada no local são as rochas basálticas de estruturas amigdaloides ou vesiculares, essas possuem pequenas perfurações oriundas expulsão dos gases vulcânicos. Na temporalidade atual essas rochas encontram-se expostas a ação erosiva de ondas do mar, por conta dessa condição erosiva, muitos desses fragmentos de seixos vulcânicos acabaram sendo incorporados aos areias da praia, como é caso das limonites, e que depois cimentados por carbonato de cálcio dando origem aos conglomerados (Figura 6).





















Figura 6: À acima esquerda detalhes da uma amostra de uma rocha vulcânica nota-se perfurações por onde os gases vulcânicos escaparam; abaixo um conglomerado de rochas composto de fragmentos de traquito e restos de outras rochas cimentadas por carbonatos de cálcio.  Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Quem visita hoje a Província Magmática do Cabo também se depara com uma enorme placa alusiva a Teoria da Deriva Continental, a grafia em português e inglês informa ao visitante local que o promontório do Cabo em que está, encontrava-se unido a região da Nigéria-Gabão na África em Eras geológicas passadas, estabelecendo assim um elo de  relação direta com as hipóteses formulada por Alfred Wegener da existência do continente primitivo Gondwana. Esse memorial diga-se de passagem em péssimo estado de conservação é visto e fotografadas por turistas e estudiosos, compondo uma cenário que certamente Wegener gostaria muito de visto em vida (Figura 7).























Figura 7: Placa com grafia em língua portuguesa, localizado na Província Geológica do Cabo de Santo Agostinho elucida os postulados da Teoria da Deriva Continental, um marco que Alfred Wegener gostaria muito de ter visto em vida.  Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Quando Alfred Wegener (1880-1930) propôs pela primeira vez ideia da Deriva Continental (veja o vide-o n.1) em 1915, é possível que tenha lido o artigo de Josh Casper Branner, do final do século XIX (01/1876-07/1889) a The Geology of the Northeast Cost of Brazil publicado em 1912, após ter visitar o litoral Sul de Pernambuco por duas vezes, fatos que antecede em três anos a teoria de Alfred Wegener. Como se sabe há um consenso entre a maioria dos geógrafos que o trabalho de Alfred Wegener só veio ser divulgado em  1915, quando da publicação da obra "A origem dos Continentes e dos Oceanos", na qual propôs a hipótese de que os continentes ora separados, formavam há aproximadamente 200 milhões uma única massa continental, chamada de Pangeia, é um único oceano, o Panthalassa.




Tudo leva a crer que a fragmentação do megacontinente Gondwana, ocorreu  no período Jurássico Superior e culminando no Cretáceo Inferior, aproximadamente há 140 milhões de anos. Esse desmembramento ou separação de placas se deu a partir do movimento de rotação horária em direção de sul para norte, gerando uma depressão alongada de direção norte-sul, dinâmica geológica que se manifestaram na forma um grande rift que separou a África das América do Sul.

Dessa feita os geólogos consideram a Província Magmática Cabo seria o estágio inicial da abertura do Oceano Atlântico. O avanço das tecnologias, principalmente o uso do sonar que permitiu detectar evidencias além das bordas oceânicas, e mapear as dorsais oceânicas do fundo do mar, evidencia que veio a transforma as hipóteses Wegeneana em verdade, e que somados a outras descobertas vieram a constituir a famigerada Teoria da Tectônica de Placas. 

Desde a separação dos continentes que a sociedade moderna impulsionada pela intensificação das trocas da reconhecida globalização, tem tentado romper essas distancia gerado pela abertura do Oceano Atlântico. Quando Vicente Yañes Pizon  rompeu essa barreira, levou pelo menos 60 dias para transpor as águas do Atlântico em uma Caravela impulsionada pelos ventos, estudiosos afirmam que ele partiu em 18 de novembro de 1499 de Palos na Espanha, e ao chegar no Cabo de Santo Agostinho, o navegador luso Pedro Alvares Cabral ainda estava ancorado no porto de em Lisboa em Portugal. Hoje ao contrário, os navios modernos que fazem o mesmo percurso do atual  porto de Suape gastam em média de 10 dias.






























Figura 8 e 9: Acima e aesquerda, ver-se a abertura de posicionamento de canhão de um antigo forte português que guardava a entrada de acesso aos canaviais da foz do rio Ipojuca. Abaixo direita o complexo portuário de SUAPE considerado como o melhor porto do Nordeste devido sua posição estratégica de aproximação com a África e Europa. Fonte: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.  

3.UM NECK VULCÂNICO EM MEIO AS MORFOESCULTURAS DESENVOLVIDAS POR PROCESSO DE DISSECAÇÃO

A paisagem onde se localiza o Neck vulcânico parece monótona, principalmente se a observação for feita desprovida de análises da dinâmica geológico-geomorfológica e histórica. Os seus componentes são poucos e de fácil descrição, o que se vê é uma usina de moagem de cana, uma pequena vila de moradores, um extenso canavial que se distribuem sobre um relevo colinoso, um rio, touceiras de resquícios de Mata Atlântica, e um morro escuro rochoso em uma formação geológica denominada de Neck vulcânico.


















Figura 10: Paisagem fragmento da zona rural do município de Ipojuca do local onde se situa o Neck vulcânico. A imagem foi captada de cima do Neck a cerca de 45 metros de altura. Autor: Natalicio de Melo  
Rodrigues. 2013.


Entretanto, por trás desses parcos elementos que compõe a paisagem, há a ação complexa que envolve os agentes da dinâmica do espaço geográfico, tais como, agentes internos ou tectônicos, agentes estruturais erosivos responsáveis pelas modificações nas feições do relevo, e a ação do homem na qualidade de construtor de espaço geográfico. Todavia, mesmo considerados todos esses agentes, se faz necessários distinguir a complexa e enorme escala temporal a qual os objetos encontram-se inseridos, sendo a que as ações da natureza exigem uma escala temporal maior medida muitas vezes em milhões de anos, enquanto que as ações modificadoras do homem, que embora se apresente de maneira dominante na paisagem, é a de escala temporal menor e medida em centenas de anos.


















Figura 11: A esquerda acima ver-se em primeiro plano em tom escuro parte da base do Neck vulcânico que se eleva em quase 45 metros, aos fundos, parte usina e vila de moradores, morros colinoso cobertos pela Cana-de-açúcar e requisos de mata e o rio Ipojuca. À esquerda abaixo detalhes do topo do Neck Vulcânico sob ação erosiva dos liquens e gramas. Ipojuca –PE.  Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Ao organizar os elementos da paisagem por ordem temporal, considerando o ponto de vista histórico-geológico-geomorfológico, os mais antigos objetos são os objetos da natureza, seguidos pelos construídos pelo homem. Considerando a natureza dentro da linha da Teoria da Tectônica de Placas, o relevo colinoso que hoje se acham cobertas de resquícios de Mata Atlântica, mas em sua maior parte circundado pela monocultura Cana-de-açúcar, essas são resultados de ações do intemperismo que vem ocorrendo desde a separação das placas tectônica.

Isso porque o relevo hoje em forma colinoso, por exemplo, nem sempre foi assim, sua origem remota a existência do paleocontinete Gondwana há pelo menos 195 m.a, quando o mesmo era continental e estava unido a África, dessa forma sob clima semiárido e coberto possivelmente por vegetação de Caatinga (AB’Saber, 2005), mas  tarde há 66 m.a, quando o oceano Atlântico surgiu separando a América da África, esse litoral passou de um clima continental seco, para um clima litorâneo  quente-úmido, assim,  os antigos pediplanos de embasamento cristalinos começaram a ser dissecados, e seu embasamento rochoso a ser intemperizados, e assim passaram a dar lugar ao relevo colinoso e suave, e o seu solo antes pedregoso ou litossolo para um solo profundo ou latossolo de grande fertilidade denominado massapé (Figura 12). 


















Figura 12: À esquerda acima exposição do latossolo massapê, resultado do alto grau de intemperismo ao longo de milhões de anos sobre rochas cristalinas antigas. A abaixo uma das poucas manchas de Mata Atlântica que divide o parco espaço ante o avanço das construções e da Cana-de-açúcar. Margem da PE 60. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.  

Quanto ao Neck vulcânico localizado ao longo da rodovia PE-60 e adjacências é o segundo elementos mais antigo da paisagem, formando um relevo singular em meio a um relevo memelonizado, o que causa supressa principalmente naqueles que pensa que não existiram vulcões no Brasil. Sua origem se deu possivelmente como consequências da formação do rift, e desmembramento da Gondwuana, essa separação continental se deu a custa de formação de vulcões, intrusões magmáticas entre outros fenômenos de ordem interna.

 Há muitas denominações para o Neck, Guerra A.T (1980) definiu como é um conduto de um vulcão enchido de lava solidificada cujo afloramento é realizado pelo trabalho seletivo de erosão diferencial que desbasta as rochas tenras que estão ao redor. Pode-se dizer por consequente que o Neck é um pescoço ou testemunho de uma antiga chaminé vulcânica. Constitui algumas vezes uma saliência estranha de relevo com as formas mais ou menos meio arredondadas. Em Ipojuca o Neck vulcânico local ergue-se de forma abrupta, com cerca de 45 metros sendo o mesmo  datado de pelo menos 100 milhões de anos.



Figura 13: A massa rochosa acima e esquerda é o Neck vulcânico; a direita e ao fundo ver-se Terrenos Ígneos e Metafóricos do Pré-Cambriano bastante erodidos e alto grau de intemperismo em forma de morros em meia laranja. À abaixo a usina Ipojuca segue seu curso de moagem de Cana-de-açúcar. Ipojuca – PE. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues.2013.

Para formar um Neck vulcânico se faz necessário existir um vulcão antes. Um vulcão  surge na  crosta terrestre, a profundidade que pode varia de 30 a 90 km, ou seja na em uma camada denominada manto,   logo abaixo da litosfera. Nessa camada as rochas encontram-se fundidas pela elevada temperatura existente que podem atingir até 1500°C. Essas rochas recebem o nome de magma (em grego, "material pastoso") e o local  onde se encontram denomina-se reservatório magmático. O magma é circundado por rochas sólidas logo acima ou litosfera que exerce enorme pressão.

No manto as rochas magmáticas liquidas estão  sujeitas aos movimentos internos da crosta terrestre (movimento de convecção), podem surgir entre algumas fendas, fazendo com que a pressão no interior da bolsa magmática diminua; em consequência, o magma torna-se mais fluido e capaz de penetrar pela fissura aberta. Assim acabam abrindo  caminho até a superfície pelos pontos em que as rochas são mais frágeis; nesse caso, ocorrerá o nascimento de um vulcão. Quando a pressão diminui essa passagem aberta pode esfriar e fechar essa espécie de túnel que se denomina conduto vulcânico ou um Neck.














Figura 14: Neck vulcânico de Ipojuca aparece destacado em meio a uma planície alveolar circundado por colinoso e próximos as margens do rio Ipojuca: Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Os primeiros estudo dese Neck vulcânico de Ipojuca, é atribuído a Sial et al(1987)  apud Nascimento(2003) quando elucidou a presença de   diques, plugs e riolitos nessa região, e a Mello & Siqueira(1972 os primeiro mapas geológicos e descrição petrografica da área (NASCIMENTO, M.A.L. 2003).

Na perspectiva Geomorfológica o Neck vulcânico localiza-se em meio ao Domínio Morfoclimático Mares de Morros, denominação usada em conformidade com  Ab’Saber (2003),  a qual se atribui como característica principal as feições mamelonares presentes na áreas tropical-atlânticas florestadas, uma toponímia teórica, porque  na verdade nem sempre isso ocorre, a Mata Atlântica quase não existe mais, e o predomina  é um domínio  grandes campos de plantio de Cana-de-açúcar.

Na literatura, a teoria que melhor explica o isolamento de determinadas formas de relevo abrupto, como é o caso do Neck vulcânico de Ipojuca, em meio a uma paisagem mamelonizada vem de Jatobá & Lins (2008). Segundo o autor, as áreas onde se situam o Neck vulcânico, encontram-se do ponto de vista geomorfológico em meio a uma paisagem dominada por Morfoesculturas desenvolvida por processo de dissecação. Dissecação em Geomorfologia corresponde à ação erosiva linear, isto é que se processa no talvegue dos rios, típica de ambiente úmido, onde as correntes pluviais são permanentes e dotadas de grande poder erosivo. Esse processo erosivo pretérito e ainda em curso se estabelece em fases continuas, denominadas de estágios evolutivos do relevo.

As Morfoesculturas desenvolvida por processo de dissecação responsável pela formação das colinas na Zona da Mata ocorrem dentro de uma escala evolutiva que requer milhões de anos em sua consolidação. Por vezes esquecemos que nosso litoral encontrava-se ligado ao Africa. Por conta da questão temporal e escalar, seria impossível para um ser humano acompanhar todas as fases de desenvolvimento desse tipo de relevo, nesse contexto só resta ao pesquisador a buscar encontrar na atual paisagem modificado os indícios da evolução das fases.

Assim em conformidade com o modelo, a primeira fase estágio da evolução corresponde aos interflúvios inteiriços de uma antiga superfície de erosão onde se iniciaria a dissecação. Na fase de transição para um segundo estágio da evolução ocasionaria formação de grota, a grota é uma depressão de bordo superior quase vertical, limitado ao alto por uma escarpa curva que se amplia a partir do topo de um interflúvio e concentra as precipitações, afunilando a vazão num sulco terminal que se aprofunda na base da encosta (JATOBÁ & LINS, 2008).(Figura 15,16,17 e 18).

















Figura 15: À esquerda a primeira fase de dissecação das antigas superfícies de erosão. Ipojuca -PE. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.

Figura 16: Na segunda faze segue-se a formação da grota e o inicio da separação das colinas no interflúvio. Ipojuca –PE. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2013.


Figura 17: Nessa fase as grotas evoluem para um terceiro estágio, a qual o autor denomina de fase de colo, ocasião em que as colinas não aparecem bem definidas.Autor: Natalicio de Melo 

















Figura 18: O processo se completa com a individualização das colinas, e instala-se um vale onde antes havia apenas um colo. Ipojuca-PE. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues

Por sua resistência em decorrência da sua diferente composição rochosa rioloitica, Neck vulcânico de Ipojuca apresenta-se de forma individualizada na paisagem. Em geral esse tipo de rocha apresenta estrutura de fluxos magmáticos e juntas colunares horizontais e verticais não tão perceptível como uma chaminé vulcânica (Figura 19). Mesmo apresentando zonas intemperizadas (alteradas pelas águas e pelo clima local), guardam as características da rocha fresca, com textura afanítica a porfirítica bem preservada (PROJETO SINGRE 2010). Os riolitos possuem textura afanítica ou porfiríca, formado corpos com disjunções colunares multifacetas de eixo colunar horizontais e verticais. Esse corpo magmático plutônico é segundo Sial et al(1987) apud Nascimento(2003) composto de riolitos.

  

















Figura 19: A esquerda observa no Neck vulcânico de Ipojuca disjunções verticais, a abaixo e a esquerda uma rara inusitada formação  horizontais. Ipojuca - PE. Fonte: Natalicio de Melo Rodrigues,.2013. 
















Quanto aos objetos da escala temporal menor, a cidade de Ipojuca antecede a usina, mas não o plantio da cana-de açúcar. Criada como unidade municipal do estado de Pernambuco em 1890, em meio a um período histórico turbulento de transição de reinado para um republica, em que nada menos 5 governadores se alternaram no poder. Mais tarde sob o governo de Alexandre José Barbosa Lima (1892-1896), no ano de 1895, ou cinco anos depois, era inaugurado o mais novo elemento que componente da paisagem, a usina Bandeira como era conhecida no passado, mas que hoje recebe a denominação de Ipojuca marcando a chegada da Era Moderna Industrial em substituição os velhos banguês.

Nesse contexto, o meteorologista que viria a ficar famoso após sua morte Alfred Wegener tinha apenas 10 anos de idade, e jamais imaginaria que essa paisagem em meio a canavial da Zona da Mata de Pernambuco abrigaria uma dos melhores exemplos de tectonismo vulcânico que seria usado e estudado para fundamentar seu modelo teórico, e muito menos que se tornaria atrativo de  turistas e estudiosos do assunto

Os espaços da cana são históricos, e não se disseminaria de forma dominante se ter sido a custa da destruição da Mata Atlântica pretérita que recobria as colinas mamelonares. A expansão da Cana-de-açucar deu conjuntamente a prática latifundiária monocultora, uso de mão-de obra escrava que ao longo de um processo histórico alijou qualquer perspectiva de acesso a terra e de se uso pra produzir alimento. Alimentado por politica e econômicas cruéis, mas que ainda serve aos interesses e exploração econômica dos usineiros, que cerceia o acesso a terra, e domina a população a custa de salários mínimos. 

O clima é do tipo As’ com característica quente e úmida, e com isoietas de precipitação pluviométrica que variam 1.400 – 1600 mm, (ANDRADE, M.C, 2003), esse parâmetro climático foi de fundamental importância para configuração da paisagem modificada. Se ao homem atribuem-se as modificações de mata, e mudanças na função dos objetos naturais, do mesmo modo o Clima foi um elemento importante na configuração e mudanças dos objetos naturais, a ela se atribui a mamelonização do relevo, e a ação do intemperismo químico que erodiu as rochas cristalinas antigas, permitiu o desenvolvimento das extensas e horizontais camadas de solo que compões as Colinas da Zona da Mata, a qual se atribui condição de grandes taxas de intemperismo químico, sob um processo erosivo pretérito e atual ainda em curso, o que justifica a presença do Neck vulcânico de dureza diferenciada e por ser de rochas magmáticas vulcânicas intrusivas.

REFERENCIAS
1. AB SABER. Os Domínios de Natureza no Brasil Potencialidades Potencialidades Atelei Editorial. São Paulo, 2005
2. ANDRADE, M.C. Atlas Escolar Pernambuco. João Pessoa. Grafset, 2003
3. JATOBA, L.& LINS. RC. Introdução a Geomorfologia. Bagaço. Recife. 2008.
4.PROJETO SINGRE REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA CPRM - SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL DIRETORIA DE HIDROLOGIA E GESTÃO TERRITORIAL SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO RECIFE. 2001
5.SIAL, A.N. The magmatic province of cabo de Santo Agostinho, Pernambuco,: a Brazilian recordo f the ascencion plume activity in the past III Latin-American Geological Congress - Acapulco -México,1976. Citado em Cap III Revisão dos Conhecimentos da Província Magmática do Cabo. Geologia, Geocronoloiga, Geoquímica e Petrogênese das rochas ígneas. Nascimento.M.A.L.Tese de Doutorado(PPGG/CCET/UFRN) 2003.
6.TEXEIRA,W; FAIRCHILD.T.R.;TOLEDO.M.C.M.; T.FABIO. Decifrando a Terra.São Paulo. Companhia Editora Nacional, 2.edição. pag. 86. 2009.











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