O Parque Nacional do Catimbau2 encontra-se localizado entre as coordenadas geográficas 8º 24 00 e 8º 36 35 S e 37º 09 30 e 37º 14 40 WG, totalizando uma área de 62.300 ha na forma de uma poligonal. Sua área encontra-se distribuída dentro do setor Norte da Bacia do Jatobá, e abrange parte dos municípios de Buíque (12.438 ha.); Tupanatinga (23.540 ha) na Microrregião do Vale do Ipanema, e Ibimirim (24.809 ha) na Microrregião do Moxotó do Estado de Pernambuco.
Analisando essa divisão, percebe-se que é Buíque
o município que possui menor parcela do parque. Entretanto, dentro de uma
perspectiva que envolve espaço e poder, é Buíque que de fato exerce a
territorialidade. Assim, sempre que o Parque do Catimbau é colocado em
evidência seja na mídia escrita e falada, ou mesmo no dia a dia, é o município
de Buíque que de fato é lembrado (Figura 1)
Figura 1: Na figura observa-se que a área do domínio territorial do Parque Nacional do Catimbau se distribui sobre as territorialidades de três municipios: Ibimirim ao Leste, Tupanatinga ao Centro, e Buique ao Oeste, mas pelo município que se da o melhor acesso, e por e lembrado como Catimbau do Buique-PE . Fonte: SNE (2000)
A formação
da Bacia Sedimentar do Jatobá
Esta
Bacia Sedimentar do Jatobá é uma das bacias interiores mais importantes, suas
dimensões geográficas envolvem uma área aproximadamente 5.600 km2, abrangendo
vários municípios, entre os quais se destacam Inajá, Buíque, Ibimirim e
Tupanatinga.
A formação
da Bacia Sedimentar do Jatobá relaciona-se inicialmente a fragmentação desses
megacontinente denominado Gondwana, e que teve incio no período jurássico
Superior e culminou no Cretáceo Inferior, há cerca de 100 milhões de anos. Com
a quebra do continente surgiram as Placas Sul Americana e a Placa Africana. A
medida que essas placas se abriam de Sul para o norte, provocaram fenômenos de
vulcanismos, terremotos, intrusões magmáticas,e principalmente rifts.
A formação
dos rifts se bifurcam com falhas que
evoluem a oceanos e continentes. No caso da Bacia do Jatobá, por exemplo,
inicio a partir das mediações de Salvador local onde ocorreu a bifurcação do
grande rift costeiro a qual o Rift do Cabo de Santo Agostinho em
Pernambuco é parte. O setor com direção norte, atualmente ocupado pelas bacias
do Tucano e Jatobá que não evoluiu, caso tivessem evoluído os estados de
Sergipe e Alagoas, estariam separados do Brasil e constituído um ilha. Dessa
forma hoje teríamos uma ilha que estaria para a América do Sul do mesmo modo que Mandagascar estaria para
África (Figura 2 e 3).
Figura 2 e 3 : Observa-se a semelhança entre os padrões de fragmentação presente na formação do Rifts, o da esquerda é o Rift
que originou a Bacia do Recôncavo Tucano Jatobá, e do da direita o Rift africano com a ilha do Madagascar logo a frente. Fonte:
www.phoenix.org.br.
A inserção
do Parque Nacional do Catimbau na Bacia Sedimentar do Jatobá
Numa descrição sumária da geologia
do Estado de Pernambuco, pode-se dizer que a maior parte de seu território é
constituída por rochas cristalinas e metamórficas do embasamento Pré-Cambriano.
Entretanto, quando se enfoca a área delimitada para a criação do Parque
Nacional do Catimbau, observa-se que, do ponto de vista geológico, esse parque
apresenta exemplares significativos da geologia estrutural do Estado
pertencentes ao embasamento Pré-Cambriano de idade Proterozoica, coberturas
sedimentares de idade Paleozoica do Siluriano e Devoniano; do Mesozoico do
Cretáceo e Jurássico, Cenozoico do Quaternário e Terciário.
De um modo geral, a
estratigráficamente a bacia onde se insere o Parque Nacional do Vale do
Catimbau é correlacionada com a Bacia do Araripe [3] Ponte et al (1997). A Bacia do Jatobá (Figura 4) pode ser dividida em cinco
tectono-sequências, são elas: a Tectôno-sequência Beta, de idade
Siluro-devonina; a Tectono-sequencia Pré-Rifte, de idade neojurássica; a
Tectonono sequência Sin-Rifte, de idade eocretácica; a Tectono-sequencia Pós-Rifte,
de idade mesocretácica e a Tectono-sequencia Zeta, de idade cenozoica.
Figura 5 : Em primeiro plano ver-se um riacho seco, evidenciando a característica de impermeabilidade das rochas cristalinas que compõe sua base e sustem o lençol de água na superfície. Em segundo plano e observa-se uma forma de relevo denominada frente de Cuesta, essa composta de feições sedimentares visto aqui na Serra da Tinideira, localizada nas zona rural e limites das proximidades da cidade de Arcoverde-PE. Esse Cuesta marca o limite da Bacia do Jatobá e as rochas cristalinas ao Norte. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2010.
IDADE
|
UNIDADES ESTRATIGRAFICAS
|
AMBIENTES DEPOSICINAIS
|
COMPOSIÇÃO
LITOLÓGICA
|
|
Ceno
zoico
|
Quaternário
|
Aluviões
|
Cobertura superficial
fluvial
|
Areias, siltes,
Argilas, lentes conglomeraticas
|
Terciário
|
Coluviões
|
Cobertura detritica residual
|
Predominantemente arenosa
|
|
Meso
Zoico
|
Cretáceo
|
Formação
Exú
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Fluvial “Braided” para fluvial de baixa sinuosidade
|
Arenitos grosseiros, a coglomeraticos com leitos
finos de cor creme e lilás localmente avermelhados
|
Formação
Santana
|
Lacrustino raso, associado a espécie
planície.
|
Calcissiltitos
e calcilutitos fossilíferos de coloração creme a cinza claro, intercalados a
arenitos e folhelhos
|
||
Formação
Marizal
|
Leques
aluviais/fluvial proximais
|
Arenitos,
siltitos e argilitos, com lentes de calcário, folhelhos betuminosos e evaporitos
|
||
Formação
Sebastião
|
Fluvial
de alta energia gradando para ambiente eólico
|
Arenitos médios a finos com níveis grosseiros na
base
|
||
Grupo
Ilhas
|
Planície
e frente deltáica associada a ambiente lacustrino
|
Alternância de arenitos médios a grosseiros com
argilitos e siltitos creme
|
||
Formação
Candeias
|
Flúvio-lacustre raso
|
Folhelhos e siltitos argilosos de cor marrom,
intercalados com arenitos, calcarenitos e níveis de gipsita
|
||
Jurássico
|
Formação
Sergi
|
Fluvial
“braided” com retrabalhamento eólico e leques distais
|
Arenitos
finos esbranquiçados a róseos avermelhados
|
|
Formação
Aliança
|
Lacustrino
raso, com influência fluvial
|
Folhelhos
e siltitos amarronzados e esverdeados com intercalações de arenitos finos e
calcarenitos
|
||
Paleo
zoico
|
Devoniano
|
Formação
Inajá
|
Marinho de plataforma rasa associado a fluvial
|
Arenitos finos laminados, ferruginosos com
intercalações arenosas e níveis de matéria orgânica
|
Suluriano
|
Formação
Tacaratu
|
Fluvial “braided” associado a leques aluviais
|
Arenitos
grosseiros a conglomeráticos de cor rósea a avermelhada.
|
|
Protero
zoico
|
Embasamento
Cristalino
|
Granitos, migmatitos e gnaisses
|
Figura 6: Quadro
de unidades estratigráficas da composição litológica da Bacia do Jatobá. Fonte
CPRM –conforme Leite et al 1999.
Modificado (cores baseadas no padrão
internacional da The Geological Socitey Of America, 2012). Autor: Natalicio deMelo Rodrigues.
Parque do Catimbau: testemunho do período
Siluriano e do mar Devoniano
Essa imensa formação de
arenito presente na paisagem do parque do Catimbau tem uma origem bastante
singular. Segundo Petri & Fulfaro (1983, p.4-8), toda
a área do sertão pernambucano constituiu, num passado geológico, fundo de mar,
de modo que se estabeleceu no Siluro-Devoniano, em que se manifestou também no
Nordeste como a maior transgressão marinha do continente americano . Na Bacia do Jatobá, evidência dessa formação Devoniana que constitui um fundo de mar pretérito, manifestação na Formação Inajá (Barreto, 1968) (Figura 7).
Figura 7: Afloramento da Formação Inajá na Bacia do Jatobá, situada no Sítio Trocado, Povoado de Campos- Ibimirm-PE. Essas sedimentação apresenta arenitos médios e grosseiros com porções bastantes oxidadas, e ferruginosas, e em cores que variam do róseos e avermelhados. Fonte: CPRM/UFPE. Disp. em ebah.com. (2012).
Teorias apontam que esse mar teria inundado a América do Sul pelo ocidente, através da borda continental, onde atualmente se encontra a cordilheira dos Andes. Assim, durante esse período a plataforma sul-americana encontrava-se imersa e o Rio Amazonas drenava inversa do sentido atual, limitada por uma estreita faixa de terras emersas situada na extensão das atuais Guianas até a Bolívia setentrional(PETRI & FULFARO, 1983, p.317).
Mendes & Setembrino (1971), por sua vez, afirmam que durante o Devoniano, esse mar teria inundando as bacias brasileiras até o Permiano. Quando atingiu sua maior extensão esse mar recobriu e, teria unido por determinado tempo três bacias sedimentares brasileiras: a Amazônica, do Paraná e Parnaíba (SALGADO-LABOURIAU, 2001, p.178).
Segundo
PETRY & FULFARO (1983), trabalhando num contexto global, corroboram a
ligação entre as três grandes bacias brasileiras durante boa parte do Devoniano
brasileiro, principalmente no Devoniano Médio. Essas bacias se comunicavam
entre si por corredores. “Um corredor de rumo nordeste passaria pela
futura fossa tectônica de Barreirinhas”. Outro “corredor” dirigido para leste
ligaria a bacia à região do Jatobá, Estado de Pernambuco) e, finalmente, um
outro “corredor” que estabelecia ligação com a Bacia do Paraná. Nesse período,
o Brasil e a África ainda se encontravam unidos em uma grande massa
continental, Gondwana.
Com
a separação da América do Sul ocorreu o soerguimento andino. Este fenômeno
epirogenético soergueu parcialmente as plataformas e bacias sedimentares. Acarretou, ainda, um recuo total do
mar interior Devoniano. Esse fenômeno geológico é o que explica o porquê
dos planaltos ocuparem cerca de dois terços do território nacional, daí a
expressão “o Brasil é uma terra de planaltos” (OLIVA & GIANSANTI, 1999,
p.218; ROSS, 2001, p.50-64) (Figura 8).
Figura 8: Observa-se a esquerda uma área de convergência entre as Placas de Nazca e a Placa Sul Americana, choque que resultou em uma orogênese que soergueu a Cordilheira dos Andes, como consequência o Brasil situado no interior da Placa Sul America foi soerguido, fenômeno geológico denominado epirogênese, condição ambiental que elevou suas cotas altimétricas para medias de entorno de 900 a mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Fonte: wikipédia.
Figura 8: Observa-se a esquerda uma área de convergência entre as Placas de Nazca e a Placa Sul Americana, choque que resultou em uma orogênese que soergueu a Cordilheira dos Andes, como consequência o Brasil situado no interior da Placa Sul America foi soerguido, fenômeno geológico denominado epirogênese, condição ambiental que elevou suas cotas altimétricas para medias de entorno de 900 a mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Fonte: wikipédia.
Outro
importante e principal evento a ser destacado nesse processo refere-se ao modo
como se deu a erosão (ROSS, 2001, p. 51-65). Esses processos erosivos lentos e contínuos se estabeleceram
justamente nas áreas em que havia o contato entre os planaltos de terrenos
cristalinos (plataformas, também denominados de cinturões orogênicos) e, os
planaltos sedimentares. Essa erosão contínua acabou resultando em um
rebaixamento expressivo nas bordas dos escudos cristalinos, devido à erosão
intensa nas bacias (ROSS, 2001, p.51-65).
Jatobá & Lins (2001, p.71) afirmam que os processos erosivos presentes nas bordas de bacias determinaram a formação de cuestas no Brasil’. À proporção em que esses antigos fundos de mares iam sendo promovidos a elevadas terras emersas, deixaram de representar áreas de sedimentação para oferecer superfícies fortemente trabalhadas por agentes erosivos de climas úmidos e, posteriormente, secos. A “erosão conseguiu, ao longo de milhões de anos, entalhar, desmontar e carrear quase que totalmente o espesso capeamento sedimentar” de origem marinha do período devoniano, fazendo ‘desenterrar o piso do embasamento cristalino’ (ANDRADE, 1977, p.69).
Dessa forma, a origem do Catimbau estaria associada a importantes e seqüenciados processos geológicos e geomorfológicos presentes na história geológica do Fanerozoico no Brasil. A possível seqüência desses eventos obedeceria primeiramente, à seguinte ordem: “a) início da formação das bacias intracratônicas no Siluriano ou aurora do Devoniano formando uma peneplanície pré-devoniana; b) ocorrência de uma grande transgressão marinha no Devoniano, denominada fase talassocrática; c) um desaparecimento dos mares no Neopaleozóico; d) desenvolvimento de fossas tectônicas costeiras no Neojurássico (Reativação Waldeniana) – fase geocrática; desaparecimento da individualidade das bacias intracratônicas no cretáceo (PETRI & FULFARO, 1983, p.08)”. Assim, após a reativação da plataforma os sedimentos soerguidos foram erodidos por circundenudação, resultando em um relevo cuestiforme.
Aspectos da Geomorfológicos
“Quanto às formas de relevo desenvolvidas nessa bacia são dotadas de características tabulares, como por exemplo, mesas e chapadas, e ruiniformes, quando a estrutura se encontra diaclasada (“pontões, agulhas, arcos, cogumelos, etc.) (JATOBÁ, 2003, p.65)“. Daí ser muito comum no Parque Nacional do Catimbau a presença de relevo na forma de mesas e chapadas. Destaca-se ainda na paisagem a presença de grandes morros testemunho. É o caso do Morro da Igrejinha( Figura 9), do Chapéu ou das Andorinhas(Figura 10); pedras do Cachorro(Figura 11), do Elefante (Figura 12 ). Foram estas peculiaridades geológicas, aliadas aos processos de erosão eólica e pluvial, que desenvolveram feições e diferentes tonalidades nos paredões de arenitos que conferem à região uma beleza cênica de natureza ímpar, características que levaram a condição de parque.
Figura 9: Feições erosivas conhecida como "Igrejinha" o nome se deve ao formada de portão de uma igreja de estilo gótico. O Patamar superior dessa feição elucida a antiga superfície pleistocênica. Fonte: arquivo pessoal do indio Jurandir (2010).
Figura 10: Formações em arenito sob ação erosiva pretérita e atual denominada de Morro das Andorinhas ou Chapéu devido sua semelhança. Fonte: Natalicio de Melo.2010.
Segundo o GUIA PHILIPS (2003),
oficial dos parques nacionais do Brasil, observa-se que a principal
justificativa para criação desses parques é o fato de estarem localizados em “bordas
de bacias”, áreas afetadas pela circundenudação. Assim, as formas de relevo
exuberante que compõem o quadro natural dessas áreas. Essas rochas sedimentares
oferecem formas de relevo, resultantes da ação dos fatores erosivos atuantes no
pretérito e presente, desenvolvendo paisagens ímpares e exuberantes. São essas
importantes feições rochosas que dão nome às trilhas de visitação. Daí serem
comuns em parques de arenito nomes de locais associados a animais e objetos,
como por exemplo: Morro do Chapéu (Figura 10), da Pedras do Cachorro (Figura 11), do Elefante (Figura 12) e da Concha onde encontra-se gravadas pinturas rupestres, ambas situadas no interior do Parque do Catimbau.
Figura 11. Pedra do Cachorro localizadas no interior do P.N.do Catimbau, na Geomorfologia esse formação sedimentar de arenito e denominada de Morro Testemunho. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2009.
Uma outra particularidade do arenito é a sua coloração rica em cores vermelha, ocre, lilás, amarela, entre outras, como as que compõe a Chapadas do Catimbau (Figura 13) e a Serra de Jerusalém (Figura 14). Estas cores, ao reflexo da luz solar, permitem formação de cenários especulares de cor e luz. Um exemplo desse fato é a Serras de Jerusalém. Assim, ao exame das citações, parece não haver duvida que a caatinga do nordeste brasileiro, no pretérito, esteve mesmo submersa em águas salgada. No Parque Nacional do Catimbau a grande evidência desse fenômeno geológico é a presença do arenito. Aliás, tem sido esse aspecto que muitas vezes tem prevalecido como elemento fundamental para a criação de alguns parques nacionais nordestinos.
Figura 13: Em primeiro plano observa-se erosão eólica tipica do ambiente semi-árido nordestino. Aos fundos em segundo plano recorte da Chapada do Catimbau, trata-se uma morfoestrutura de origem sedimentar.Em alguns pontos a altitude atingem a incrível marca de mil metros de altitude acima do nível do mar. Fonte: Natalício de Melo Rodrigues, 2013.
REFERENCIAS:
Fonte:Tese de Mestrado Potencialidades e impactos ambientais no Parque Nacional do Catimbau e sua zona de amortecimento, defendido por Natalicio de Melo Rodrigues*, e apresentado na Universidade de Coimbra. Disponibilizado no banco de dados do departamento de Geogrfia -CFCH-UFPE- Recife-PE. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=66569
*Doutor em Geografia, pesquisa o Parque Nacional do Catimbau há 13 anos, na qual parque foi objeto de tema de mestrado e doutorado - UFPE.