segunda-feira, 14 de abril de 2014

CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICA DO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU



CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICA DO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU*


O Parque Nacional do Catimbau2 encontra-se localizado entre as coordenadas geográficas 8º 24 00 e 8º 36 35 S e 37º 09 30 e 37º 14 40 WG, totalizando uma área de 62.300 ha na forma de uma poligonal. Sua área encontra-se distribuída dentro do setor Norte da Bacia do Jatobá, e abrange parte dos municípios de Buíque (12.438 ha.); Tupanatinga (23.540 ha) na Microrregião do Vale do Ipanema, e Ibimirim (24.809 ha) na Microrregião do Moxotó do Estado de Pernambuco.

Analisando essa divisão, percebe-se que é Buíque o município que possui menor parcela do parque. Entretanto, dentro de uma perspectiva que envolve espaço e poder, é Buíque que de fato exerce a territorialidade. Assim, sempre que o Parque do Catimbau é colocado em evidência seja na mídia escrita e falada, ou mesmo no dia a dia, é o município de Buíque que de fato é lembrado (Figura 1)















Figura 1: Na figura observa-se que a área do domínio territorial  do Parque Nacional do Catimbau se distribui sobre as territorialidades de três municipios: Ibimirim ao Leste, Tupanatinga ao Centro, e Buique ao Oeste, mas pelo município que se da o melhor acesso, e por e lembrado como Catimbau do Buique-PE . Fonte: SNE (2000)


A formação da Bacia Sedimentar do Jatobá

Esta Bacia Sedimentar do Jatobá é uma das bacias interiores mais importantes, suas dimensões geográficas envolvem uma área aproximadamente 5.600 km2, abrangendo vários municípios, entre os quais se destacam Inajá, Buíque, Ibimirim e Tupanatinga.

A formação da Bacia Sedimentar do Jatobá relaciona-se inicialmente a fragmentação desses megacontinente denominado Gondwana, e que teve incio no período jurássico Superior e culminou no Cretáceo Inferior, há cerca de 100 milhões de anos. Com a quebra do continente surgiram as Placas Sul Americana e a Placa Africana. A medida que essas placas se abriam de Sul para o norte, provocaram fenômenos de vulcanismos, terremotos, intrusões magmáticas,e principalmente rifts. 
     
A formação dos rifts se bifurcam com falhas que evoluem a oceanos e continentes. No caso da Bacia do Jatobá, por exemplo, inicio a partir das mediações de Salvador local onde ocorreu a bifurcação do grande rift costeiro a qual o Rift do Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco é parte. O setor com direção norte, atualmente ocupado pelas bacias do Tucano e Jatobá que não evoluiu, caso tivessem evoluído os estados de Sergipe e Alagoas, estariam separados do Brasil e constituído um ilha. Dessa forma hoje teríamos uma ilha que estaria para a América do Sul  do mesmo modo que Mandagascar estaria para África (Figura  2 e 3).



Figura 2 e 3 : Observa-se a semelhança entre os padrões de fragmentação presente na formação do Rifts, o da esquerda é o Rift que originou a Bacia do Recôncavo Tucano Jatobá, e do da direita o Rift africano com a ilha do Madagascar logo a frente. Fonte: www.phoenix.org.br.

A inserção do Parque Nacional do Catimbau na Bacia Sedimentar do Jatobá

Numa descrição sumária da geologia do Estado de Pernambuco, pode-se dizer que a maior parte de seu território é constituída por rochas cristalinas e metamórficas do embasamento Pré-Cambriano. Entretanto, quando se enfoca a área delimitada para a criação do Parque Nacional do Catimbau, observa-se que, do ponto de vista geológico, esse parque apresenta exemplares significativos da geologia estrutural do Estado pertencentes ao embasamento Pré-Cambriano de idade Proterozoica, coberturas sedimentares de idade Paleozoica do Siluriano e Devoniano; do Mesozoico do Cretáceo e Jurássico, Cenozoico do Quaternário e Terciário.

De um modo geral, a estratigráficamente a bacia onde se insere o Parque Nacional do Vale do Catimbau é correlacionada com a Bacia do Araripe [3] Ponte et al (1997). A Bacia do Jatobá (Figura 4) pode ser dividida em cinco tectono-sequências, são elas: a Tectôno-sequência Beta, de idade Siluro-devonina; a Tectono-sequencia Pré-Rifte, de idade neojurássica; a Tectonono sequência Sin-Rifte, de idade eocretácica; a Tectono-sequencia Pós-Rifte, de idade mesocretácica e a Tectono-sequencia Zeta, de idade cenozoica.




Figura 4: Mapa de sequencia estratigráfica da Bacia do Jatobá. O embasamento cristalino Pré-Cambriano aparece na cor rosa claro, a sequencia Paleozoica em tom rosa, os sedimentos mais recentes Pleistocênico em cor amarela. Fonte: phoenix.org.br

O período Proterozoico é o mais antigo e comumente forma a base da Bacia do Jatobá, representado pela unidades estratigráfica denominada Embasamento Cristalino com idade que oscila entre 2,5 bilhões  a 700 milhões de anos[4] (The Geologgical Society Of America, 2009). Essa camada de rochas cristalinas e representada pela composição litológica do granitos, magmáticos e gnaisses, e não é visível  na parte interior da bacia uma que a mesma  encontra-se a grande profundidade, apenas nas bordas da bacia é que é possível ser observada, como é caso nas escarpas cristalinas de Arcoverde(Figura 5).

















Figura 5 : Em primeiro plano ver-se um riacho seco, evidenciando a característica de impermeabilidade das rochas cristalinas que compõe sua base e sustem o lençol de água na superfície. Em segundo plano e observa-se uma forma de relevo denominada frente de Cuesta, essa composta de  feições sedimentares visto aqui na Serra da Tinideira, localizada nas zona rural e limites das proximidades da cidade de Arcoverde-PE. Esse Cuesta marca o limite da Bacia do Jatobá e as rochas cristalinas ao Norte. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2010.

IDADE
UNIDADES ESTRATIGRAFICAS
AMBIENTES DEPOSICINAIS
COMPOSIÇÃO
LITOLÓGICA
Ceno
zoico
Quaternário
Aluviões
Cobertura superficial
fluvial
Areias, siltes,
Argilas, lentes conglomeraticas
Terciário
Coluviões
Cobertura detritica residual
Predominantemente arenosa



Meso
Zoico

















Cretáceo

Formação Exú
Fluvial “Braided” para fluvial de baixa sinuosidade
Arenitos grosseiros, a coglomeraticos com leitos finos de cor creme e lilás localmente avermelhados
Formação Santana
Lacrustino raso, associado a espécie planície.
Calcissiltitos e calcilutitos fossilíferos de coloração creme a cinza claro, intercalados a arenitos e folhelhos
Formação Marizal
Leques aluviais/fluvial proximais
Arenitos, siltitos e argilitos, com lentes de calcário, folhelhos betuminosos e evaporitos
Formação Sebastião
Fluvial de alta energia gradando para ambiente eólico
Arenitos médios a finos com níveis grosseiros na base
Grupo Ilhas
Planície e frente deltáica associada a ambiente lacustrino
Alternância de arenitos médios a grosseiros com argilitos e siltitos creme
Formação Candeias
Flúvio-lacustre raso

Folhelhos e siltitos argilosos de cor marrom, intercalados com arenitos, calcarenitos e níveis de gipsita

Jurássico
Formação Sergi
Fluvial “braided” com retrabalhamento eólico e leques distais
Arenitos finos esbranquiçados a róseos avermelhados
Formação Aliança
Lacustrino raso, com influência fluvial

Folhelhos e siltitos amarronzados e esverdeados com intercalações de arenitos finos e calcarenitos
Paleo
zoico
Devoniano
Formação Inajá
Marinho de plataforma rasa associado a fluvial
Arenitos finos laminados, ferruginosos com intercalações arenosas e níveis de matéria orgânica
Suluriano
Formação Tacaratu
Fluvial “braided” associado a leques aluviais

Arenitos grosseiros a conglomeráticos de cor rósea a avermelhada.
Protero
zoico

Embasamento
Cristalino

Granitos, migmatitos e gnaisses
Figura 6: Quadro de unidades estratigráficas da composição litológica da Bacia do Jatobá. Fonte CPRM –conforme Leite et al 1999. Modificado  (cores baseadas no padrão internacional da The Geological Socitey Of America, 2012). Autor: Natalicio deMelo Rodrigues.  

Parque do Catimbau: testemunho do período Siluriano e do mar Devoniano

Essa imensa formação de arenito presente na paisagem do parque do Catimbau tem uma origem bastante singular. Segundo Petri & Fulfaro (1983, p.4-8), toda a área do sertão pernambucano constituiu, num passado geológico, fundo de mar, de modo que se estabeleceu no Siluro-Devoniano, em que se manifestou também no Nordeste como a maior transgressão marinha do continente americano . Na Bacia do Jatobá, evidência dessa formação Devoniana que constitui um fundo de mar pretérito, manifestação na Formação Inajá (Barreto, 1968) (Figura 7).

Figura 7: Afloramento da Formação Inajá na Bacia do Jatobá, situada no Sítio Trocado, Povoado de Campos- Ibimirm-PE. Essas sedimentação apresenta arenitos médios e grosseiros com porções bastantes oxidadas, e ferruginosas, e em cores que variam do róseos e avermelhados. Fonte: CPRM/UFPE. Disp. em ebah.com. (2012).

Teorias apontam que esse mar teria inundado a América do Sul pelo ocidente, através da borda continental, onde atualmente se encontra a cordilheira dos Andes. Assim, durante esse período a plataforma sul-americana encontrava-se imersa e o Rio Amazonas drenava inversa do sentido atual, limitada por uma estreita faixa de terras emersas situada na extensão das atuais Guianas até a Bolívia setentrional(PETRI & FULFARO, 1983, p.317).

Mendes & Setembrino (1971), por sua vez, afirmam que durante o Devoniano, esse mar teria inundando as bacias brasileiras até o Permiano. Quando atingiu sua maior extensão esse mar recobriu e, teria unido por determinado tempo três bacias sedimentares brasileiras: a Amazônica, do Paraná e Parnaíba (SALGADO-LABOURIAU, 2001, p.178).

Segundo PETRY & FULFARO (1983), trabalhando num contexto global, corroboram a ligação entre as três grandes bacias brasileiras durante boa parte do Devoniano brasileiro, principalmente no Devoniano Médio. Essas bacias se comunicavam entre si por corredores. “Um corredor de rumo nordeste passaria pela futura fossa tectônica de Barreirinhas”. Outro “corredor” dirigido para leste ligaria a bacia à região do Jatobá, Estado de Pernambuco) e, finalmente, um outro “corredor” que estabelecia ligação com a Bacia do Paraná. Nesse período, o Brasil e a África ainda se encontravam unidos em uma grande massa continental, Gondwana.

Com a separação da América do Sul ocorreu o soerguimento andino. Este fenômeno epirogenético soergueu parcialmente as plataformas e bacias sedimentares. Acarretou, ainda, um recuo total do mar interior Devoniano. Esse fenômeno geológico é o que explica o porquê dos planaltos ocuparem cerca de dois terços do território nacional, daí a expressão “o Brasil é uma terra de planaltos” (OLIVA & GIANSANTI, 1999, p.218; ROSS, 2001, p.50-64) (Figura 8).


Figura 8: Observa-se a esquerda uma área de convergência entre as Placas de Nazca e a Placa Sul Americana, choque que resultou em uma orogênese que soergueu  a Cordilheira dos Andes, como consequência o Brasil situado no interior da Placa Sul America foi soerguido, fenômeno geológico  denominado epirogênese, condição ambiental  que elevou suas cotas altimétricas para  medias de entorno de 900 a  mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Fonte: wikipédia.

Outro importante e principal evento a ser destacado nesse processo refere-se ao modo como se deu a erosão (ROSS, 2001, p. 51-65). Esses processos erosivos lentos e contínuos se estabeleceram justamente nas áreas em que havia o contato entre os planaltos de terrenos cristalinos (plataformas, também denominados de cinturões orogênicos) e, os planaltos sedimentares. Essa erosão contínua acabou resultando em um rebaixamento expressivo nas bordas dos escudos cristalinos, devido à erosão intensa nas bacias (ROSS, 2001, p.51-65).

Jatobá & Lins (2001, p.71) afirmam que os processos erosivos presentes nas bordas de bacias determinaram a formação de cuestas no Brasil’. À proporção em que esses antigos fundos de mares iam sendo promovidos a elevadas terras emersas, deixaram de representar áreas de sedimentação para oferecer superfícies fortemente trabalhadas por agentes erosivos de climas úmidos e, posteriormente, secos. A “erosão conseguiu, ao longo de milhões de anos, entalhar, desmontar e carrear quase que totalmente o espesso capeamento sedimentar” de origem marinha do período devoniano, fazendo ‘desenterrar o piso do embasamento cristalino’ (ANDRADE, 1977, p.69).

Dessa forma, a origem do Catimbau estaria associada a importantes e seqüenciados processos geológicos e geomorfológicos presentes na história geológica do Fanerozoico no Brasil. A possível seqüência desses eventos obedeceria primeiramente, à seguinte ordem: “a) início da formação das bacias intracratônicas no Siluriano ou aurora do Devoniano formando uma peneplanície pré-devoniana; b) ocorrência de uma grande transgressão marinha no Devoniano, denominada fase talassocrática; c) um desaparecimento dos mares no Neopaleozóico; d) desenvolvimento de fossas tectônicas costeiras no Neojurássico (Reativação Waldeniana) – fase geocrática; desaparecimento da individualidade das bacias intracratônicas no cretáceo (PETRI & FULFARO, 1983, p.08)”. Assim, após a reativação da plataforma os sedimentos soerguidos foram erodidos por circundenudação, resultando em um relevo cuestiforme.

Aspectos da Geomorfológicos

Quanto às formas de relevo desenvolvidas nessa bacia são dotadas de características tabulares, como por exemplo, mesas e chapadas, e ruiniformes, quando a estrutura se encontra diaclasada (“pontões, agulhas, arcos, cogumelos, etc.) (JATOBÁ, 2003, p.65)“. Daí ser muito comum no Parque Nacional do Catimbau a presença de relevo na forma de mesas e chapadas. Destaca-se ainda na paisagem a presença de grandes morros testemunho. É o caso do Morro da Igrejinha( Figura 9), do Chapéu ou das Andorinhas(Figura 10); pedras do Cachorro(Figura 11), do Elefante (Figura 12 ). Foram estas peculiaridades geológicas, aliadas aos processos de erosão eólica e pluvial, que desenvolveram feições e diferentes tonalidades nos paredões de arenitos que conferem à região uma beleza cênica de natureza ímpar, características que levaram a condição de parque.

















Figura 9: Feições erosivas conhecida como "Igrejinha" o nome se deve ao formada de portão de uma igreja de estilo gótico. O Patamar superior dessa feição elucida a antiga superfície pleistocênica. Fonte: arquivo pessoal do indio Jurandir (2010).








Figura 10: Formações em arenito sob ação erosiva pretérita e atual  denominada de Morro das Andorinhas  ou Chapéu devido sua semelhança.  Fonte: Natalicio de Melo.2010.

Segundo o GUIA PHILIPS (2003), oficial dos parques nacionais do Brasil, observa-se que a principal justificativa para criação desses parques é o fato de estarem localizados em “bordas de bacias”, áreas afetadas pela circundenudação. Assim, as formas de relevo exuberante que compõem o quadro natural dessas áreas. Essas rochas sedimentares oferecem formas de relevo, resultantes da ação dos fatores erosivos atuantes no pretérito e presente, desenvolvendo paisagens ímpares e exuberantes. São essas importantes feições rochosas que dão nome às trilhas de visitação. Daí serem comuns em parques de arenito nomes de locais associados a animais e objetos, como por exemplo: Morro do Chapéu (Figura 10), da Pedras do Cachorro (Figura 11), do Elefante (Figura 12) e  da Concha onde encontra-se gravadas pinturas rupestres,  ambas situadas no interior do Parque do Catimbau.















Figura 11. Pedra do Cachorro  localizadas no interior do P.N.do Catimbau, na Geomorfologia esse formação sedimentar de arenito e denominada de Morro Testemunho.   Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2009.












Figura 12. Pedra do Elefante  localizadas no interior do P.N.do Catimbau, na Geomorfologia esse formação sedimentar de arenito e denominada de Morro Testemunho.   Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2009.

Uma outra particularidade do arenito é a sua coloração rica em cores vermelha, ocre, lilás, amarela, entre outras, como as que compõe a Chapadas do Catimbau (Figura 13) e a Serra de Jerusalém (Figura 14). Estas cores, ao reflexo da luz solar, permitem formação de cenários especulares de cor e luz. Um exemplo desse fato é a Serras de Jerusalém. Assim, ao exame das citações, parece não haver duvida que a caatinga do nordeste brasileiro, no pretérito, esteve mesmo submersa em águas salgada. No Parque Nacional do Catimbau a grande evidência desse fenômeno geológico é a presença do arenito. Aliás, tem sido esse aspecto que muitas vezes tem prevalecido como elemento fundamental para a criação de alguns parques nacionais nordestinos.




Figura 13: Em primeiro plano observa-se erosão eólica tipica do ambiente semi-árido nordestino. Aos fundos em segundo plano recorte da Chapada do Catimbau, trata-se uma morfoestrutura de origem sedimentar.Em alguns pontos a altitude atingem a incrível marca de mil metros de altitude acima do nível do mar. Fonte: Natalício de Melo Rodrigues, 2013.

Figura 14: Serra de Jerusalém de formação arenito, situada no interior do parque e próximo ao Paraiso Selvagem. A parte superior datam do período Cenozoico e a base datam do proterozoico. Autor: Natalício de Melo Rodrigues, 2013.



REFERENCIAS:
Fonte:Tese de Mestrado Potencialidades e impactos ambientais no Parque Nacional do Catimbau e sua zona de amortecimento, defendido por Natalicio de Melo Rodrigues*, e apresentado na Universidade de Coimbra. Disponibilizado no banco de dados do departamento de Geogrfia -CFCH-UFPE- Recife-PE. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=66569

*Doutor em Geografia, pesquisa o Parque Nacional do Catimbau há 13 anos, na qual parque foi objeto de tema de mestrado e doutorado - UFPE.  





domingo, 13 de abril de 2014

POTENCIALIDADES TURÍSTICAS E RISCOS AMBIENTAIS NO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU



POTENCIALIDADES TURÍSTICAS E RISCOS AMBIENTAIS NO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU[1]

Natalício de Melo Rodrigues[2]
Fernando de Oliveira Mota Filho[3]
Eugênia C. Pereira3

No Brasil o estabelecimento de unidades de conservação iniciou-se no século XIX prolongando-se até os dias atuais. Por isso, os critérios que justificavam sua formação também sofreram alterações. Inicialmente os objetivos que nortearam a criação dos primeiros parques nacionais encontravam-se relacionados aos aspectos cênicos, uma influência clara do modelo americano. Com isso, buscaram-se como critérios de seleção, a escolha de paisagens de grande beleza natural, como por exemplo, formações rochosas, canyons e cascatas (RUNTE, 1979 apud MORSELLO, 2001).


Os parques norte-americanos e brasileiros foram marcados por semelhanças e diferenças. As primeiras se dão no que diz respeito às motivações iniciais de suas criações, em geral, baseadas em aspectos cênicos. Porém, havia diferenças no tipo de localização geográfica e na política de manejo. Enquanto nos Estados Unidos os primeiros parques foram criados em lugares remotos no Brasil, Parques Nacionais equivalentes eram localizados em áreas urbanizadas próximas das capitais (DRUMMOND, 1988 apud MORSELLO, 2001, p.153). Quanto ao manejo havia drásticas diferenças: os parques norte-americanos não permitiam a presença do homem; no Brasil, ao contrário, a presença humana é permitida e condicionada às ações de manejo sustentável.

Com a popularização do ecoturismo, milhares de pessoas procuram ambientes naturais para desenvolver atividades de lazer, como diferencial da rotina diária implementada nos grandes centros urbanos. Nesse sentido os parques nacionais passam a ser centro de atração para caminhadas, trakking, rapel, dentre outras atividades desportivas ligadas à natureza. Assim, atividades turísticas quando bem planejadas, podem se tornar importante fonte de receita para os moradores dos municípios envolvidos diretamente com o Parque. No entanto, quando mal planejadas, podem prejudicar a atividade do turismo local.

Sabe-se que os Parques Nacionais são áreas do território nacional, delimitadas e protegidas sob jurisdição do governo federal, que apresentam elevados atributos naturais de importância nacional, tendo como objetivo preservá-los e conservá-los para fins científicos, educativos, ou como patrimônios culturais e naturais da nação, contanto que mantenham ao máximo seu estado natural. Por isso, dentro dos Parques Nacionais é proibida qualquer forma de exploração dos recursos naturais. 

Em contrapartida, algumas atividades são permitidas nessas áreas, desde que associadas à preservação. É o caso do ecoturismo. Esta atividade é considerada positiva porque agrega valores econômicos à economia local. É necessário preservar o ambiente, uma vez que uma atividade econômica só pode ser sustentável se seus recursos são conservados. No entanto, por serem Parques Nacionais abertos à visitação, devem possuir atração significativa para o público, oferecendo oportunidade de recreação, educação ambiental, pesquisas, estudos e, principalmente, infra-estrutura, algo que nem sempre ocorre.

O Parque Nacional do Catimbau foi criado pelo Decreto Lei 4.340 de 22/08/02 em conformidade com a Lei 9.985 (Lei SNUC), que define no seu art. 11º: os parques “tem como objetivo básico à preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisa científica e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico” (SANTOS, 2003).


Mesmo sendo uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, é ilusório pensar, que, pelo fato de se transformar determinada área em Parque Nacional, que inclui espaços de domínio público, áreas particulares não desapropriadas, entre outras categorias, fique imune aos problemas causados por atividades antrópicas. Neste sentido, o Parque Nacional do Catimbau constitui um exemplo do que vem ocorrendo na maioria dos parques brasileiros. Portanto, não foge à regra quanto à deficiência administrativa e existência de problemas ambientais. Assim, quando a lei é ignorada, nem sempre os parques podem funcionar de fato como “ilhas”, onde teoricamente estariam ausentes os efeitos dos impactos ambientais. 



Em virtude dos problemas existentes e dos recursos naturais exuberantes, a criação do Parque Nacional do Catimbau foi justificada por constituir-se de paisagem com riqueza de biodiversidade ímpar. Essa região do Catimbau, por suas características, foi considerada “Área de Extrema Importância Biológica”, pelos grupos temáticos do workshop realizado em Petrolina – PE, em dezembro de 2000.

Essa avaliação foi fundamental para implementação de ações prioritárias de conservação e utilização sustentável da biodiversidade do bioma caatinga. Os motivos justificados para enquadrar essa Unidade de Conservação (UC) na categoria “parque” foram os seguintes; a) do ponto de vista geológico, pois possui uma unidade representativa da geologia do estado de Pernambuco e possibilita a realização de estudos no assunto voltados para a compreensão da evolução geológica e estrutural; b) testemunhos de processos de erosão eólica e pluvial que desenvolveram feições de diferentes tonalidades nos paredões, o que confere a essa região aspectos de exuberância cênica; c) rica espeleologia oferecendo condições para o espeleoturismo; d) diversidade de espécies da caatinga e de estruturas, em função da variação do relevo e aspectos climáticos; e) a ocorrência de numerosos sítios de pinturas e gravuras rupestres de grande heterogeneidade (SNE, 2000).

Localiza-se entre as coordenadas geográficas 8º 24’ 00” e 8º 36’ 35” S e 37º 09’ 30” e 37º 14’40” WG, totalizando uma superfície de 62.300 ha na forma de uma poligonal. Sua área encontra-se distribuída entre os municípios de Buíque (12.438 ha.); Tupanatinga (23.540 ha) na Microrregião do Vale do Ipanema, e Ibimirim (24.809 ha) na Microrregião do Moxotó do Estado de Pernambuco (Figura 01).


Figura 1: Localização do Parque Nacional do Catimbau no estado de Pernambuco. O recorte em cor amarela representa os limites dos municipios (Ibimirim, Tupanatinga e Buique) que possuem partes de seus territórios nos limites do Parque Nacional do Catimbau (Recorte em com vermelha). Fonte: SNE. 2000.

Analisando essa divisão, observa-se que Buíque é o município com menor parcela do Parque. Entretanto, dentro de uma perspectiva de acessibilidade espacial, Buíque exerce a territorialidade porque é o município que melhor acesso oferece, através da PE-270. O turismo no Catimbau ainda é recente. Embora o local possua grande potencial de crescimento dessa atividade, não dispõe de uma infra-estrutura capaz de atender, de forma eficiente, o turista. Entretanto, o IBAMA alega dificuldades de ordem financeira para cuidar adequadamente da Unidade. Por conta dos parcos recursos e falta de estrutura, o Parque Nacional do Catimbau encontra-se oficialmente fechado à visitação pública.

O principal guia de referência de turismo sobre Parques no Brasil é o Guia Philips de Parques Nacionais do Brasil, editado pela Revista Horizonte Geográfico. De informações consideradas confiáveis, vem sendo recomendado pelo IBAMA. Por possuir grande credibilidade perante o público, é atualizado a cada edição, sendo por isso o mais lembrando e oficialmente recomendado para turistas brasileiros e estrangeiros que pretendem visitar os Parques Nacionais.


O Guia em sua última edição, publicada no ano de 2003, incluía o Parque Nacional do Vale do Catimbau como um dos 52 parques oficiais do Brasil. Mas, na agenda de serviços, o parque aparece como um parque fechado, recomendando ao turista que se interessa em visitá-lo, primeiramente entrar em contato com o IBAMA. Isso significa dizer que, embora o parque tenha sido criado há quase seis anos, ainda não se resolveram os problemas de oficialização das trilhas, e não possui infra-estrutura mínima para funcionar.

Em pesquisa de campo buscou-se analisar essa situação. Foi possível mostrar que embora o parque tenha sido criado oficialmente no ano de 2000, ainda não há as mínimas condições de funcionamento, elucidando a informação do Guia Philips. Os problemas se estabelecem em vários níveis como deficiência de transporte, condições das estradas, conservação de trilhas, infra-estrutura hoteleira, falta de funcionários treinados para recepção de turistas, placas informativas, e problemas ambientais, dentro e na zona de amortecimento do Parque.

A condição de Parque fechado considerada pelo IBAMA pode significar perdas para o turismo ecológico de preservação. Isto reflete em desperdício para a população de uma oportunidade única e rentável que empregaria pessoas, movimentando o comércio local. Em adição, não seria cumprido seu objetivo principal, o de promover o lazer contemplativo e qualificado voltado a sensibilizar as pessoas para a necessidade de conservação da diversidade biológica desse local.

O IBAMA afirma que está buscando parcerias com a iniciativa privada para fazê-lo funcionar plenamente. Essa falta de infra-estrutura dos locais, principalmente de técnicos do IBAMA, tem permitido a ocorrência de invasões, construção de moradias irregulares, atividades econômicas turísticas ilegais, degradação de pinturas rupestres e, até mesmo, a degradação ambiental.

Potencialidades espeleológicas do Parque Nacional do Catimbau
O Parque do Catimbau possui um forte potencial para a atividade turística associada à espeleologia. Com cerca de 62 mil hectares de paisagens elaboradas em formação arenítica, abriga sítios históricos, cânions, cemitérios indígenas pré-históricos, pinturas rupestres, flora de caatinga, além de um grande número de cavernas e furnas.


O espeleoturismo no Catimbau é promissor. Até o momento, apenas 4% das cavernas foram cadastradas (SNE, 2000). É conhecida a possibilidade de ocorrer várias outras, todas em rochas areníticas, que não são tão extensas e ricas em espeleotemas como as cavernas desenvolvidas em rochas carbonáticas. Ainda assim, podem apresentar grandes entradas, e amplos corredores e salas internas e, por vezes, lagos de águas cristalinas e fontes. Esses e outros fatores lhes conferem beleza e potencialidade turística. Um bom exemplo é a caverna da Furna do Gato (figura 03).

Figura 3: As cavernas constituem importantes amostras espeleológica presente no Parque Nacional do Catimbau que merece ser visitado. Entretanto na ocasião dessa pesquisa havia o inconveniente relacionado ao difícil acesso. Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2010.

Entre alguns inconvenientes são presentes nas cavernas, como por exemplo, há presença de morcegos e abelhas, o que dificulta a prática do turismo, embora sejam fundamentais para o equilíbrio do meio ambiente, principalmente, por exercerem na fauna o importante papel na disseminação de sementes e polinização. Existem numerosos sítios de pinturas e gravuras rupestres localizados, principalmente, nos abrigos rochosos das serras de arenito. Foram registradas, também, inúmeras pinturas realizadas em épocas pré-históricas, que apresentam uma grande heterogeneidade gráfica, com características que as identificam como fazendo parte da classe de registros rupestres conhecidos como Tradição Nordeste, Tradição Agreste e, outras classes ainda não bem definidas.

Foram cadastrados os seguintes sítios arqueológicos que, no estado atual das pesquisas, considera-se apenas um pequeno percentual, dada à potencialidade da área em termos arqueológicos: 1. Mulungu, 2. Quixéu 3 Serra das Torres, 4 Alcobaça 5. Pedra da Concha, 6. Pedra da Concha II, 7. Casa de Farinha, 8. Serra Branca, 9. Mirante da Serrinha, 10. Frutuoso, 11. Frutuoso II, 12. Furna dos Letreiros, 13. Furna dos Caboclos, 14. Gruta do Israel, 15. Sítio dos Meninos, 17. Letreiro do Prateado, 18. Sítio dos Macacos, 19. Serra das Andorinhas, 20. Serra do Catimbau, 21. Lajedo Bonito, 22. Serrinha, 23. Puiu, entre outros. Destes, apenas alguns estão em condições de receber turistas.
Figura 4: Observa-se uma morfoescultura de estrutura geológica em arenito denominada de  morro testemunho, ver-se que sua forma e de pináculo de 25 metros de altura. Sítio do Breus -Buique -PE  . Autor: Natalicio de Melo Rodrigues, 2009.

Muitos desses sítios arqueológicos permaneceram intocados, principalmente porque são protegidos pela vegetação e o difícil acesso. Entretanto, alguns se encontram hoje em iminente perigo de destruição, pelo desmatamento e ação do turismo improvisado. Entretanto, sabe-se que, por falta de conhecimento e visando um retorno imediato (lucro) tem-se promovido, sem nenhum planejamento, a visitação a alguns destes sítios arqueológicos sem acompanhamento de agentes credenciados do parque. Esta atividade não subordinada à direção administrativa do Parque Nacional, junto com o IBAMA, pode causar danos irreparáveis a esse importante patrimônio nacional.


Foi observado durante as visitas às prefeituras de Ibimirim, Buíque e Tupanatinga que, em nenhum destes órgãos, existem projetos que visem proteção e preservação desses ambientes, de belezas naturais e patrimônio cultural da pré-história do povo nordestino. Seria importante que as prefeituras e a sociedade estivessem envolvidas diretamente no projeto do parque, e todos deviam ter a obrigação de desenvolver meios adequados de visitação e de proteger um patrimônio natural e cultural ímpar no Nordeste brasileiro. Mesmo na condição de oficialmente fechado (IBAMA, 2005), o Parque Nacional do Catimbau, continua a funcionar informalmente.

Condições ambientais na Vila do Catimbau e Paraíso Selvagem

O acesso à Vila do Catimbau se inicia em Buíque. O turista que solicitar informações sobre o funcionamento do Parque para visitação ou informação das potencialidades turísticas, vão se surpreender com o desconhecimento da população sobre o local. Outro problema que um turista poderá enfrentar é encontrar um transporte que permita o acesso ao Parque. Como não existe um transporte oficial, não resta outra opção a não ser alugar um táxi, ou transporte de lotação. Neste último caso, o transporte é muito incerto e desconfortável.

A Vila do Catimbau (figura 02b) é oficialmente o ponto oficial de chegada e de direcionamento para os demais pontos de visitação do Parque Nacional do Catimbau. Nesse local encontra-se um posto de turismo mantido pela Prefeitura Municipal do Buíque e supervisionado pelo IBAMA (figura 02c). O turista deve se dirigir a esse posto para receber um folder oficial que explica o acesso aos principais pontos turísticos do Parque, por exemplo, Cânion e Serra das Torres, Serrinha e, Pedra do Cachorro (figura 02d).

Sitio dos Breus - Catimbau -Buique-PE. Fonte: Natalicio de Melo Rodrigues, 2014.

A Vila do Catimbau lembra uma cidade histórica com ruas estreitas, uma capela no centro e diversas casas enfileiradas. O saneamento é deficiente, as ruas são sujas, os esgotos são a céu aberto, e a única praça existente encontra-se atualmente deteriorada. Entretanto, o parque vem funcionando de forma improvisada. Por isso, é comum a presença esporádica de ônibus e automóveis particulares que se dirigem a esses locais. Em geral trata-se de estudantes ou, às vezes, moradores das cidades circunvizinhas que usam o local como balneário de fins de semana. Mas nada que lembre um turismo estruturado com a presença maciça de turistas, lojas de conveniências, movimento de hotelaria e restaurantes movimentados.


Entre as recomendações do folder, ressalta-se a visita ao Paraíso Selvagem, ao sítio Alcobaça e à gruta do Meu Rei. O que se observa quando se visitam esses locais é que as condições ambientais e de infra-estrutura são inadequadas para prática dessa atividade. As potencialidades oferecidas pela natureza são significativas, mas o turismo nas condições atuais é inviável. Embora as opções de passeio sejam recomendadas pelo posto do IBAMA, ao exame de algumas dessas trilhas, percebe-se que é pouco provável que realmente os turistas possam ter disposição para ir a esses locais, não por incompetência dos guias, mas pela falta de estrutura de acesso aos locais. Desses pontos o de mais fácil acesso, e com uma razoável estrutura, é o Paraíso Selvagem.

Serra das Torres - Parque Nacional do Catimbau- Buique -PE.

O acesso à serra das Torres, por exemplo, é um dos mais difíceis. Primeiramente porque se faz necessário percorrer um bom trecho, cerca de 5 km de automóvel em estrada arenosa e de difícil acesso. Esse percurso inicial leva a um local denominado Baixa Funda. A partir desse trecho só é possível o acesso às torres em veículos pequenos. Por fim, o restante da trilha tem de ser feito a pé e dura, em média, uma hora.

A serra das Torres possui cerca de 970 metros de altitude (SUDENE, 1970). No alto dessas torres é possível observar diversas formações rochosas provocadas pela erosão eólica com inúmeros matizes. Uma dessas lembra um pássaro pré-histórico (figura 02e). São também visíveis alguns traços escavados nas rochas que lembram figuras geométricas na forma de pinturas rupestres.


Pedra do Cachorro
 
As trilhas da Pedra do Cachorro e da Igrejinha são os pontos mais accessíveis ao turista. A pedra do Cachorro, por exemplo, pode ser observada ao longo da estrada de terra que acessa a Vila do Catimbau. O Paraíso Selvagem, por sua vez, é uma área particular que ainda não foi indenizada pelo IBAMA, por isso o acesso é pago. A um custo de R$ 3,00 por pessoa torna-se possível a visitação. Aliás, esse é um dos poucos acessos seguros com uso de veículos, inclusive ônibus. Esse ponto funciona como uma espécie de balneário, cercado por paredões de arenito com mais de 150 metros de altura nas cores ocre, vermelha, amarela e laranja.

Entre as atrações destacam-se, por exemplo, esculturas rochosas em arenito que lembram a pata de um cavalo. Outra formação se assemelha a cabeça de um cachorro; e, um morro testemunho em forma de elefante. Nesse local pode-se ainda tomar banho de bica em águas que jorram de fontes naturais, ou em piscinas artificiais. Pode-se ainda visitar a pé a imensa caverna da Furna do Gato

 Furna do Gato - Parque Nacinal do Catimbau - Buique -PE.


Uma opção é escalar a Serra do Coqueiro com 914 metros de altitude. Essa escalada permite acesso a importantes formações areníticas como, por exemplo, a que tem forma de um soldado (figura 05g); e outra semelhante a uma águia (figura 05h). Além dessas atrações o turista, escalando a Serra de Jerusalém, tem uma visão panorâmica de toda a parte sul do Parque Nacional do Catimbau. É possível ainda ao visitante conhecer o museu de pedra e um considerável acervo particular de revistas e fotos alusivas ao Parque.




Quanto aos problemas ambientais observam-se: alguns danos às cavernas de arenito por escavação, alteração do piso das cavernas (figura 05f), erosão do solo e voçorocas (figura 05e), construção de ocas que descaracterizam a paisagem (figura 05j), dentre outros. Muito dessas alterações não decorre diretamente de ação proposital do proprietário, mas devido à improvisação, sendo resultado do turismo amador e sem orientação ao longo de mais de 20 anos, o que representa a falta de cuidados do governo federal com o patrimônio histórico nacional.


Quanto às construções existentes no local, vale ressaltar que estas antecedem a criação do Parque, e tinham como objetivo oferecer algum conforto aos turistas que buscam visitá-lo. Aliás, é ao turista amador a quem se têm atribuído as atividades pioneiras de divulgação dos aspectos cênicos desse local, antes mesmo de ser criado oficialmente o parque.


Figura 05: Aspectos de relevo sedimentar que predomina no Parque Nacional do Catimbau, Buíque – PE: (a)  Fotos: Natalício Rodrigues (2004).



O parque de escultura natural José Bezerra
Outro importante local com potencialidade turística localizada na vicinal do Catimbau encontra-se distante cerca de 10 km do Paraíso Selvagem. Nesse o turista pode ver obras de arte em troncos retorcidos de madeiras. A exposição dessas obras é a céu aberto, em um grande pátio. São peças em formas diversas que lembram cabeças de humanos, pássaros, répteis e outros elementos da natureza, além de imagens que lembram santos (figura 06).

A importância desse local foi divulgada pela imprensa e as peças já foram expostas em eventos culturais no Centro de Convenções de Pernambuco em Recife. Esse local também pode ser visitado virtualmente pelo site . Os dotes do artesão local não se resumem à produção de esculturas. O turista pode ainda contar com canções que relatam os costumes, a vida do sertanejo nordestino no campo, dentre outros temas da cultura regional.

José Bezerra reside e sobrevive da arte no Vale do Catimbau, na cidade de Buíque, na Mesorregião do Agreste Pernambucano, Microrregião do Vale do Ipanema, Pernambuco, região, segundo pesquisadores e arqueólogos da Universidade Federal, e também considerada o segundo maior sítio arqueológico do Brasil. Essa posição importante se dar tanto pela quantidade de pinturas quanto pela tipologia de inscrições quanto pelo valor histórico.



Figura 06: Parque de escultura José Bezerra. Em primeiro plano o artesão José Bezerra. Ao fundo as peças de madeira retorcidas em forma de animais. Ao fundos ver-se o pesquisador da FABEJA professor mestre Ricardo de Oliveira .Foto: Natalício de Melo Rodrigues (2004).

Nesse de recorte cenário de Caatinga, nasce o artista José Bezerra, e dessa mata nativa que ele encontra inspiração para produzir suas esculturas, que são exibidas no terreiro e ao redor de sua casa. Na verdade trata-se de um atelier a céu aberto. Sua linha de arte traduzir-se em representa, pássaros, repteis e outros seres que são gerador de sua imaginação. Sua exposição, sua maneira de fazer arte, seu canto melancólico encantam os viajantes que por lá passam.


Sua casa simples e de taipa, e tomada objetos artísticos, entre eles destacam-se os totens de madeira. Embora use madeira da Caatinga e funcione dentro de uma Unidade de Proteção Ambiental, como é o caso do Parque Nacional do Catimbau, sua arte pouco interfere em termos de impactos ambientais, uma vez que a maioria das peças são de restos de madeira, galhos tortuosos e arvores que tombaram naturalmente, que de uma outro maneira não teria uso, assim com é essas sobras que ele criar o seu mundo de esculturas variadas, que vai desde as de grandes proporções, para objetos em menores dimensões.


Quando José Bezerra tem um olha diferenciado, de imaginação aguçada percebe em cada pedaço de madeira uma obra de arte, e assim bem como as imagens que os galhos ou tronco lhe insinua. Dessa maneira ele intervém, ora com um facão, grosa, formão, ou serrote, ao modo que árvores caídas, pedaços de troncos e raízes, vão tomando forma e retratando as mais diversas figuras, que se manifestam em e cabeças de gente, carros de boi, animais, insetos, e seres do universo da cultura nordestina. 

Sua obras já foram expostas em varias exposições culturais brasileiras, em cidade importante como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Niteroi, Minas Gerias, entre outras, além de publicações e inúmeras exposições culturais que torna seu Curriculum artístico é extenso e invejável. Artista consolidado, tanto como grande escultor como grande compositor e cantor (Clik aqui e veja essa grande performasse) . Esses talentos lhe valeu o reconhecimento como artista no site Galeria da Estação.

Por fim é possível sugerir que o Parque Nacional do Catimbau enquadra-se perfeitamente na categoria de Unidade de Conservação com potencial para o turismo ecológico. No entanto, a falta de infra-estrutura para tal atividade, o descumprimento da legislação que protege as UC s e planejamento adequado para práticas turísticas dificultam o acesso de pessoas interessadas na visitação, bem como o retorno financeiro que melhoraria as condições socioeconômicas dos habitantes locais.


BIBLIOGRAFIA
GUIA PHILIPS. Parques Nacionais do Brasil. São Paulo: Editora Horizonte Geográfico, 2003.
IBAMA. www.ibama.gov.com.br Unidades de Conservação. 2005. Acesso 14/04/05
MORSELLO, C.. Áreas Protegidas - Seleção e Manejo. São Paulo: Annablume, 2001
SANTOS, Saint-Clair.H. Direito Ambiental - Unidades de Conservação, Limitações Administrativas. Curitiba: Juruá, 2003.
SNE - Sociedade Nordestina de Ecologia. Projeto Técnico para a Criação do Parque Nacional do Catimbau/PE – versão final, em cumprimento ao Contrato n º 086-00/02, Subprojeto “Proposta para Criação do Parque Nacional do Catimbau/PE”. 2002.
SUDENE. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Ministério do Interior – Departamento de Recursos Naturais – Divisão de Cartografia. Folha SC.24-X-A- III.1970
 * Publicado no Livro :CASTILHO.M.C.;VIEGAS J.M.TURISMO E PRATICAS SOCIOESPACIAIS: Multiplas Abvordagens e Interdisciplinaridades. Recife. Editora UFPE, cap.6,paag.123.2008.




[1] Parte da dissertação de mestrado em Gestão e Políticas Ambientais/UFPE do primeiro autor
[2] Doutorando do programa de Pós Graduação em geografia – UFPE; Professor da Faculdade de Formação de Professores de Belo Jardim/PE
[3] Professor do Depto. de Ciências Geográficas/CFCH/UFPE.
e-mail: natalicio.rodrigues@ig.com.br; fmf@elogica.com.br; eugenia.pereira@pq.cnpq.br

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