sábado, 25 de fevereiro de 2023

MILTON SANTOS - UMA MENTE BRILHANTE

 Quem foi Milton Santos?


Nasceu: Brotas de Macaúbas (BA) Ocupação: Educador Obras fundamentais: A cidade nos países subdesenvolvidos (1965), Por uma geografia nova (1978) e Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal (2000). 2 Da alfabetização em casa pelos pais, que eram professores, até o doutorado na universidade Strasbourg, em 1958, na França, e os 20 títulos de doutor honoris causa em universidades renomadas até 2000, a vida acadêmica de Milton Santos produziu uma vasta obra sobre as principais mudanças da humanidade no nosso tempo. Milton Santos nasceu na cidade de Brotas de Macaúbas (BA), em maio de 1926. Foi preso na ditadura militar em 1964 e ficou no exílio até 1976. Ele morreu em junho de 2001, na cidade de São Paulo. 

"*Sou baiano, venho de uma família de professores do lado materno, meu avô e minha avó eram professores primários, mesmo antes da abolição. Do lado paterno, devem ter sido escravos, não sei muito bem, porque em minha casa me ensinaram a olhar mais para a frente do que para trás. Meu pai também acabou sendo professor primário, de modo que nasci numa família que – antes da criação do que se chama classe média – era uma família remediada, humilde mas não pobre, e que tentou me dar uma educação para mandar, para ser um homem que pudesse, dentro da sociedade existente na Bahia, conversar com todo mundo."

*Milton Santos, em entrevista à Revista Caros Amigos, em 1998.

Em 1994, recebeu o Prêmio Vautrin Lud, conferido por universidades de cinquenta países, o maior reconhecimento da área da geografia, equivalente a um Prêmio Nobel. Em 1996, quando completou 70 anos, foi realizado um seminário internacional chamado “O Mundo do Cidadão. O Cidadão do Mundo”, que virou um livro com o mesmo nome e o registro de textos de 67 intelectuais sobre Milton Santos e sua obra de centenas de livros, análises e artigos.

Atuações múltiplas e uma crítica social vigorosa

Com formação em Direito, atuação no jornalismo e como professor em diversas universidades, foi na área da Geografia que Milton Santos revolucionou o olhar acadêmico com novas frentes de pesquisas e textos sobre a globalização, urbanismo, desenvolvimento econômico dos países do Terceiro Mundo e a relação entre o território e seus habitantes, entre outros. No programa Roda Viva, da TV Cultura, a televisão pública do Estado de São Paulo, em março de 1997, Milton Santos definiu o problema estrutural da globalização, um dos principais temas analisados por ele.

" “Durante dois séculos, a humanidade sonhou com uma ciência a serviço do homem. Quando isso se obtém, este objetivo é deixado de lado para que a globalização sirva a um número extremamente limitado, não só de pessoas, mas de empresas e instituições”, disse Santos."

Santos inovou o pensamento científico ao propor a mudança de eixo da análise socioeconômica para a socioespacial, que deu base para o conceito de Nova Geografia. “Creio que os territórios têm um papel muito grande na compreensão do que é uma nação”, disse o geógrafo. A visão aguçada de Milton Santos para questões amplas da sociedade fez com que fosse escolhido como consultor da ONU, da Unesco e da OIT. Ele também assessorou os governos da Argélia e da Guiné Bissau, ambos na África. Foi membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano do Brasil e da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.

CREIO QUE OS TERRITÓRIOS TÊM UM PAPEL MUITO GRANDE NA COMPREENSÃO DO QUE É UMA NAÇÃO -Santos,M.

“Tudo deve ser ensinado como um grande enredo. Os livros deveriam ser escritos como enredo, abanar o facultês, o universitês e o geografês e apresentar os fatos e as realidades como são”, afirmou em um programa de televisão, em julho de 1995. Milton Santos dizia que não era um especialista na questão negra, mas era um negro brasileiro que teve a experiência de ter sido negro em quatro continentes. “A luta dos negros no Brasil só terá eficácia se forem envolvidos todos os brasileiros, inclusive os negros, mas não só os negros. Não cabe aos negros, aliás, fazer essa luta. Essa luta tem que ser feita sobretudo por todos”, disse durante uma conferência do Movimento Negro, em 1995, na Faculdade de Serviço Social da UERJ.

Há uma frequente indagação sobre como é ser negro em outros lugares, forma de perguntar, também, se isso é diferente de ser negro no Brasil. As peripécias da vida levaram-nos a viver em quatro continentes, Europa, Américas, África e Ásia, seja como quase transeunte, isto é, conferencista, seja como orador, na qualidade de professor e pesquisador. Desse modo, tivemos a experiência de ser negro em diversos países e de constatar algumas das manifestações dos choques culturais correspondentes. Cada uma dessas vivências foi diferente de qualquer outra, e todas elas diversas da própria 8 experiência brasileira. 

As realidades não são as mesmas. Aqui, o fato de que o trabalho do negro tenha sido, desde os inícios da história econômica, essencial à manutenção do bemestar das classes dominantes deu-lhe um papel central na gestação e perpetuação de uma ética conservadora e desigualitária.

 Os interesses cristalizados produziram convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas). Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito. Milton Santos

“Milton Santos tem mil atuações e é uma grande inspiração. Ele deixou como legado uma crítica social vigorosa. Ele fez questionamentos importantes sobre o pensamento social brasileiro”, disse Katty Valêncio, bibliotecária e proprietária da livraria Africanidades.

Para conhecer melhor: 3 livros de Milton Santos e 2 vídeos 

Livro: A cidade nos países subdesenvolvidos Civilização Brasileira, esgotado 

A obra de 1965 começa uma linha de análises sobre as dinâmicas e transformações nos países periféricos e como eles impactam no arranjo geral do mundo. Milton Santos faz uma apurada observação sobre a desigualdade e a formação das grandes cidades nos países pobres. “A cidade não tem poder para forçar a evolução regional de que depende o seu próprio desenvolvimento. As possibilidades de evolução regional são criadas fora da região e da cidade, de acordo com os interesses do mundo industrial”, aponta em um trecho da obra.

Por uma Geografia Nova: da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica Edusp, 288 págs. 

Lançado em 1978, o livro é um marco da geografia. Milton Santos une filosofia, história e epistemologia, e outras disciplinas da área de humanas, para ampliar o pensamento geográfico, com destaque para o estudo dos territórios, dos espaços. A obra representa o surgimento de uma geografia mais crítica, que ajuda o entendimento do mundo, e das relações humanas, como um todo. 

Por uma outra globalização Record, 176 págs.,  Publicado em 2000.


 

Trata-se de um grande resumo da obra de Milton Santos que, ao mesmo tempo, também é uma nova revolução no pensamento global ao destacar os efeitos possíveis dos monopólios do dinheiro e da informação. Milton Santos antevê os problemas gerados pelo aumento exacerbado da competitividade no mundo e do empobrecimento das massas.


Documentário

Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá 1h29min, 2006 

Assita aqui. Clik no play acima.

Dirigido por Silvio Tendler, o documentário mostra a última entrevista do geógrafo, gravada em janeiro de 2001, cinco meses antes da sua morte. Entrevista Ao Roda Viva 1h26min, 1997 Disponível aqui Entrevista concedida por Milton Santos em 1997 no programa Roda Viva, da TV Cultura, está disponível no YouTube no canal oficial da atração.


Entrevista Ao Roda Viva 1h26min, 1997 

Disponível aqui .Clik no play acima.

Entrevista concedida por Milton Santos em 1997 no programa Roda Viva, da TV Cultura, está disponível no YouTube no canal oficial da atração.

FONTE; NOVA ESCOLA.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O ESPAÇO CIDADÃO 

PROFESSOR DR. MILTON SANTOS* -
PALESTRA DE ABERTURA DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA - HAVANA, CUBA -

*Milton Almeida dos Santos  (Brotas de Macaúbas, 3 de maio de 1926 – São Paulo, 24 de junho de 2001) foi um geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado e professor universitário brasileiro.

Considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil no século XX, foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Embora graduado em Direito, destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo e por seus trabalhos sobre a globalização nos anos 1990. Sua obra caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao sistema capitalista e seus pressupostos teóricos dominantes na geografia de seu tempo.

Foi professor da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, da Universidade Columbia, Universidade de Toronto, da Universidade de Dar es Salaam e da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP, onde se tornou professor emérito. Em alguns anos da sua trajetória profissional, conciliou suas atividades acadêmicas com consultorias a Organização Internacional do Trabalho, a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, além de ter participado da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Ele também escreveu mais de 40 livros, publicados não apenas no Brasil, como também em países como França, Reino Unido, Portugal, Japão e Espanha.

Recebeu diversos títulos acadêmicos e honrarias, entre os quais o prêmio Vautrin Lud, o de maior prestígio e uma espécie de Nobel na área da geografia, e também foi agraciado postumamente em 2006 com o Prêmio Anísio Teixeira.



 DO LIVRO : GEOGRAFIA DO CIDADÃO

A atividade econômica e a herança social distribuem os homens desigualmente no espaço fazendo com que noções como rede urbana ou sistema de cidades não tenham validade para a maioria das pessoas. O acesso efetivo delas aos bens e serviços depende de seu lugar socioeconômico e também do lugar geográfico, tema que Milton Santos explorou anteriormente em O Espaço Dividido. Aprofundando a discussão, o autor se propõe aqui a tratar a questão da cidadania pelo ângulo geográfico, mostrando como a mobilidade ou o imobilismo tornam-se assim categorias de análise. Com a pretensão de contribuir para o debate da redemocratização brasileira, as análises são feitas a partir da realidade do país, mas tentam abarcar também a de outros países subdesenvolvidos.


 

  Documentário BBC | 8 de Janeiro: o dia que abalou o Brasil. Apenas uma semana após a posse do novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, ...